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"A ARTE POP E SUA SEGUNDA GERAÇÃO" por Antonio Gonçalves Filho

"Nesta sala foram reunidos alguns artistas que antecederam a geração de Emmanuel Nassar nos anos 1960 e integraram um movimento conhecido como arte pop (norte-americano e brasileiro). Cruzamento de outros movimentos como Nova Figuração ou Novo Realismo, o pop brasileiro agregou alguns procedimentos que caracterizaram tanto a arte pop americana (Warhol, presente nesta exposição) como a pop dos pioneiros ingleses, em especial Richard Hamilton (1922-2011), historicamente considerado o marco zero dessa linguagem, ao incorporar, de forma crítica, numa colagem de 1956, recortes de anúncios de revista que faziam o elogio do estilo “moderno” de viver.


Antonio Gonçalves Filho - Créditos: Denise Andrade

De modo semelhante, o paraibano Antonio Dias (1944-2018) produziu na década de 1960 séries de obras (pinturas, assemblages) marcadas por forte conteúdo político e produzidas no contexto da repressão política decretada pelo regime militar após 1964. É o caso, por exemplo, do guache América: o Herói Queimado (1965). Dias, a exemplo de Lichtenstein, nela recorre às histórias em quadrinhos para compor sua crítica quase didática ao autoritarismo chancelado por uma sociedade consumista, uniformizada e refratária ao diferente.

Contemporâneo de Antonio Dias, o paulistano Claudio Tozzi, nascido no mesmo ano, 1944, ampliou esse repertório ao explorar fatos marcantes da época, como a conquista espacial (um exemplo é a rara acrílica sobre aglomerado de madeira Astronauta, de 1969, ano do primeiro passo do astronauta Neil Armstrong na Lua). Tozzi, então, já participara de exposições históricas, como a 9ª. Bienal de São Paulo, em 1967, conhecida como a Bienal Pop por ter trazido ao Brasil obras de Andy Warhol. Lichtenstein e outros. Rubens Gerchman (1942-2008) encampou a abordagem política da pop de Dias em obras como o óleo sobre madeira Policiais Identificados na Chacina, de sua série Registro Policial (1968), testemunho de um ano tenso marcado por protestos em todo o mundo. Elegendo como temas questões sociais como o difícil trânsito interclassista na época do regime militar e o isolamento social (em Caixa do Homem Só II, de 1967), Gerchman se notabilizou por uma arte engajada e criativa, sendo uma referência para os criadores do movimento tropicalista.

O mineiro Raymundo Colares (1944-1968) fez a ponte entre a arte pop e a arte concreta, transição igualmente visível na obra do paulista (nascido na Itália) Waldemar Cordeiro (1925-1973), também atento à ressonância da cultura de massa na fotografia e na publicidade. De Raymundo Colares vemos nesta exposição exemplos de sua última série (produzida no ano de sua morte), Gibis (livros de papel colorido recortados que constituem simulacros gráficos das HQs da época, mas sem imagens). Waldemar Cordeiro, pioneiro da “computer art”, foi um entusiasta do “popcreto’, da figuração política da qual Ruídos (1971, retrato feito em impressora matricial (IBM), é um exemplo memorável que usa como modelo a figura de uma pessoa marginalizada. O paulista Geraldo de Barros (1923-1998) também experimentou a linguagem pop, antes de sua adesão do movimento concreto, como é possível ver nesta sala.

Wesley Duke Lee (1931-2010), que acompanhou de perto o advento da arte pop americana, ao estudar na Parson’s School de Nova York, foi um dos primeiros organizadores de happenings ao voltar ao Brasil, trazendo na bagagem o repertório da arte pop retrabalhado no desenho e na pintura. Dos artistas internacionais presentes nesta exposição, Andy Warhol comparece com um trabalho da delicada série Polinsettia (de 1982), tinta de polímero sintético e serigrafia sobre tela que ele fez para amigos com imagens de uma flor vermelha (bico-de-papagaio) usada na decoração natalina.


Peter Halley, nascido em Nova York, seguiu o modelo de Warhol e dirigiu a revista Index de 1996 a 2005, uma espécie de Interview revista e ampliada para novas direções, inclusive o formalismo. Sua pintura remete às cores lisérgicas de Warhol com a marca visual de Halley (conduítes e celas) reforçada pelo uso de tintas comerciais e fluorescentes (Day-Go, para sinalizaçãso de rua) e Roll-a Tex. Como se vê, a arte pop deixou herdeiros, que refletem sobre a crise da sociedade tecnológica com o mesmo talento de seus antecessores." - Antonio Gonçalves Filho


Confira as imagens do evento de inauguração das duas exposições que aconteceram na galeria Millan em 08/07/2023 aqui.





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