"Reynaldo Fonseca (1925 – 2019) é um dos mais importantes artistas pernambucanos ocupando um lugar único no circuito de arte brasileiro. Personalidade singular, sua obra integra a falange de artistas enigmáticos, entre os quais se incluem Ismael Nery, Maria Martins e Farnese de Andrade.
Em sua longa carreira, o artista fez enorme sucesso e contou com uma legião de admiradores entre público, crítica e colecionadores. Os mais importantes intelectuais escreveram sobre a sua obra, entre eles: Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Frederico Morais, Olívio Tavares de Araújo, Roberto Pontual e Walmir Ayala. Apesar disso, a última publicação abrangente sobre o artista, datava dos anos 1980, numa edição inteiramente esgotada.
Com o objetivo de preencher essa lacuna fui convidada por Mauricio Redig de Campos, sobrinho-neto de Reynaldo, a elaborar um livro sobre o artista. O processo de trabalho durou dois anos e revestiu-se de extrema dificuldade, não por falta, mas pelo excesso de material, de todas as ordens, guardados pelo artista, e conservados pela família. Uma verdadeira avalanche de desenhos, cartas, entrevistas, catálogos, convites, e artigos de jornais e revistas. A pesquisa trouxe muitas novas luzes ao estudo do artista revelando a marcante presença de Reynaldo na cena artística pernambucana, apesar de seu legendário retraimento. Em 1944, aos dezenove anos, Reynaldo recebeu o segundo prêmio do Salão de Pintura do Museu do Estado, o primeiro lugar coube a Vicente do Rego Monteiro, já famoso, e com 45 anos. A comparação foi inevitável.
O livro com 272 páginas, bilingue português e inglês, foi realizado com o patrocínio do Instituto REC Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura, e reúne um conjunto de obras de toda a produção do artista, desde os anos 1930 até sua morte, em 2019. Uma cronologia ilustrada percorre toda a vida de Fonseca incluindo sua inserção no cenário nacional a partir dos anos 1980.
Reynaldo sempre quis se manter alheio a todas essas premências do mundo real, e, por isso, optou por uma vida calma e solitária e por uma pintura atemporal. Em outra clave, era o que defendia Ismael Nery, que acreditava que a abstração do Espaço e do Tempo permitia chegar à essência das coisas e distinguir o que realmente tinha importância e significado. Não por acaso a obra dos dois artistas é permeada por elementos como a ambiguidade, o insólito, e o irreal, gerando uma estranheza que bordeja o surrealismo - sem realmente sê-lo. Às observações de que era um criador de figuras mortas e não humanas, assim respondia Reynaldo: “Elas estão fora do tempo e do espaço... Já me acusaram de usar roupas muito antigas nas figuras. Eu não faço isso, as roupas são muito simples, eu não uso enfeites, golas, rendas. É que a pintura assume o clima de coisa antiga. Para mim, estão apenas fora do tempo”.
Essa opção temática, aliada à perfeição técnica, que sempre pautou sua produção, tornaram Reynaldo Fonseca um artista especial, um mestre cujo trabalho se alicerça no mistério das coisas comuns e na capacidade de transmutar o banal em extraordinário.
O livro Reynaldo Fonseca foi lançado no mês de maio de 2024 no Museu do Estado de Pernambuco, e na Galeria Marco Zero no Recife, em agosto, na Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo, e na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um público amplo e interessado compareceu a todos os lançamentos, e a edição já está praticamente esgotada!"
Denise Mattar
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